quinta-feira, 14 de outubro de 2021

A MEIO CAMINHO


A pouco e pouco, vou-me aproximando de ti
devagar e de forma quase impercetível
espreitando pelo canto do olho
para ter certeza de que te apercebes
de todos os movimentos e aproximações
analisando com inteira agitação a tua reação.

O meu pobre coração bate aceleradamente
em ritmo inconstante, leviano e profano
que me provoca até dificuldade
em fazer chegar aos pulmões tão arfantes
o ar abençoado e oxigenado que respiro
perfumado por um odor que me chega de ti.

E é esta fragância que do teu corpo se solta
leve, imponente, desgarrada e tão fresca
que comanda os meus sentidos
deixando-me transtornada e bloqueada 
num estado hipnótico e de autêntico transe 
perdendo a noção de quem sou e o que faço.

Volto a espreitar pelo canto do olho, matreira
e sinto-me invadida por uma angústia vil
continuando nós à mesma distância
cada um no seu continente, no seu espaço
embora se mantenha a falsa sensação
de que me vou aproximando de ti aos poucos.

Assim, de forma indireta, hábil e muito penosa
mantemo-nos muito afastados um do outro
e todos os meus músculos contraídos 
se queixam já do tremendo e anormal esforço 
e é num ato impregnado de desespero
que te proponho com sinceridade e carinho
que nos encontremos, amado, a meio caminho.


CÉU

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