quarta-feira, 14 de agosto de 2024

CAMA DA ESCRAVIDÃO


Acariciada por belas pétalas amarrotadas

húmidas no néctar do odor do teu corpo

sinto nos ossos famintas gargalhadas

que me falam no silêncio das palavras

dos desejos da tua descarada imaginação.


E ouvindo os cânticos doces e escondidos

que ressaltam da tua mão, na Paixão

agarrando os teus suores esculpidos

por anseios cada vez mais prementes

vou, louca, de encontro ao teu odor vivo.


Mergulhando fundo nos lençóis despidos

só com o físico em tortura e suplício

os lábios gemem pelos teus encarecidos

dos beijos de amor, poucos, ardidos

que choram, soltando por ti um suspiro.


As tuas mãos! Agarrando a cintura nua

balançando-se nela como um gáudio

como se fosses dono, a dança continua

por mais um dia e por mais uma lua

em lascivas oscilações de prazer e dor.


Sentindo o prazer do toque de mil flores

que ardem resplandecentes de emoção

os corpos emitem contínuos odores

implorando por mais tambores

rufando, insanos, na cama da escravidão.


CÉU

quinta-feira, 21 de março de 2024

ESTRELA DA TARDE

Comemora-se hoje, 21 de março, o Dia Mundial da Poesia. Eis a minha participação. 


Era a tarde mais longa de todas as tardes

que me acontecia

eu esperava por ti, tu não vinhas

tardavas e eu entardecia

era tarde, tão tarde, que a boca

tardando-lhe o beijo, mordia

quando à boca da noite surgiste

na tarde, tal rosa tardia.


Quando nós nos olhámos, tardamos no beijo

que a boca pedia

e na tarde ficámos unidos ardendo na luz

que morria

em nós dois nessa tarde, em que tanto tardaste

o sol amanhecia

era tarde demais para haver outra noite

para haver outro dia.


Meu amor, meu amor

minha estrela da tarde

que o luar te amanheça

e o meu corpo te guarde.


Meu amor, meu amor

eu não tenho a certeza

se tu és a alegria, ou se tu és a tristeza

Meu amor, meu amor

eu não tenho a certeza.


Foi a noite mais bela de todas as noites

que me adormeceram

dos noturnos silêncios que à noite

de aromas e beijos se encheram

foi a noite em que os nossos

dois corpos cansados não adormeceram

e da estrada mais linda da noite

uma festa de fogo fizeram.


Foram noites e noites 

que numa só noite nos aconteceram

era o dia da noite de todas as noites

que nos precederam

era a noite mais clara

daqueles que à noite amando se deram

e entre os braços da noite

de tanto se amarem vivendo morreram.


Eu não sei, meu amor, se o que digo 

é ternura, se é riso, ou se é pranto

é por ti que adormeço e acordo

e acordado recordo no canto

essa tarde em que tarde surgiste

dum triste e profundo recanto

essa noite em que cedo nasceste

de mágoa e de espanto.


Meu amor, nunca é tarde nem cedo

para quem se quer tanto.


Compositores: José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

BRUXINHA

Chamavas-me bruxinha

ainda mal conhecias 

os meus feitiços fulminantes

feitos com flores de laranjeira

pétalas de rosas vermelhas

folhas verdejantes

estrelas cintilantes

bocados de luar

tudo misturado

com salpicos de amor e mar. 


Elixir radical, brutal e fatal

ao qual ainda fui acrescentar

a beleza do meu olhar

a cor da minha pele

pedaços de lábios de mel

um perfume mais que sensual 

do corpo de mulher

que sabe muito bem o que quer.


E com amor, muito amor

te dei tudo isto a beber

para que pudesses perceber

que não te enganavas ao dizer

que no meu feitiço

querias para sempre viver.  


CÉU


O MUNDO PASSA POR AQUI