Comemora-se hoje, 21 de março, o Dia Mundial da Poesia. Eis a minha participação.
Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
era tarde, tão tarde, que a boca
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde, tal rosa tardia.
Quando nós nos olhámos, tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde, em que tanto tardaste
o sol amanhecia
era tarde demais para haver outra noite
para haver outro dia.
Meu amor, meu amor
minha estrela da tarde
que o luar te amanheça
e o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
eu não tenho a certeza
se tu és a alegria, ou se tu és a tristeza
Meu amor, meu amor
eu não tenho a certeza.
Foi a noite mais bela de todas as noites
que me adormeceram
dos noturnos silêncios que à noite
de aromas e beijos se encheram
foi a noite em que os nossos
dois corpos cansados não adormeceram
e da estrada mais linda da noite
uma festa de fogo fizeram.
Foram noites e noites
que numa só noite nos aconteceram
era o dia da noite de todas as noites
que nos precederam
era a noite mais clara
daqueles que à noite amando se deram
e entre os braços da noite
de tanto se amarem vivendo morreram.
Eu não sei, meu amor, se o que digo
é ternura, se é riso, ou se é pranto
é por ti que adormeço e acordo
e acordado recordo no canto
essa tarde em que tarde surgiste
dum triste e profundo recanto
essa noite em que cedo nasceste
de mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
para quem se quer tanto.
Compositores: José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo