domingo, 26 de junho de 2016

MORTE PEQUENA

Sem eu saber lá muito bem de onde vinha
aquele cálido soprar, aquele bafejar
nos meus cabelos, no rosto e no corpo
que o recebia, o aquecia e crescia
ao contacto intenso e galopante do teu
num estado eufórico, louco.
 
Um encontro doce e de indescritível prazer 
tonificado, já em pedra, solidificado
viril, destemido, de rompante, abusivo
desordeiro, mas afável e seduzido
pela agitação e excitação do meu corpo
contra o teu, quase fogo.
 
E queres e apoderas-te logo, logo de mim
tomando, perseguindo, conseguindo
o achar, o realizar do ponto de encontro
sonhado, desesperado, prometido
e o beijo com que me enlaças a boca
ah, sabe-me a pouco!
 
As mãos ávidas, que queimam as roupas
abrem veredas, matas, estrelas
e os olhos olham-se, falam, chocam-se
e tu ensinas-me o caminho, guias-me
nesta força, neste impulso forte, convexo
estendendo a passadeira vermelha
escancarando todas as portas ao sexo
já a babar-se, tão frouxo!

Conheço, sei de cor, os teus íntimos sinais
os gemidos, os gritos e os ais
a voz, a tua voz, querendo, exigindo
mais, sempre mais e mais
e a tua língua dominadora e guiadora
levando-me, pouco a pouco.

Finos e fortes perfumes, odores e sabores
e falo erguido, pronto, incontido
meu amor, vem, minha língua dançarina
ao teu render, quase vindo
em avalanches, pérolas e brilhantes
espessos, de muco, de ouro.

Manobras-me, manuseias-me, dobras-me
como flor breve, à mercê, leve
nas tuas mãos, desfalecendo, morrendo
e segues o vento, quente
num voo despótico, sensual, erótico
e quando paras, és beijo rouco.
 
E eu em delírio, febre, subindo, trepando
e tu em mim, feliz, naufragando
e tu em mim investindo, alagando-me
e eu usufruindo e gostando
até que as palavras, os uivos, os gritos
aconteçam da morte pequena.
 
E depois e logo de seguida, e sem parar
as coordenadas dos sentidos
contorcem corpo e alma, em espasmos
em estrofes brancas e bordadas
que inventei e escrevi com o teu sémen
escorrendo devagar, aliviado
pela vegetação e botão da pradaria
que estremece e se agita e enlouquece
de prazer fundo, extenso, profundo
e somos só dois, nós, tu e eu
jazendo ali, anarquizados e sagrados
fazendo o amor deste e de outros mundos.


CÉU 

terça-feira, 7 de junho de 2016

AMO-TE!

Espero-te por entre os silêncios escuros da noite 
entre sombras e luzes, físico alvoroçado
lugar onde te descaro com a minha silhueta
abrindo-te o meu mundo, inteirinho
que o teu corpo absorve, delirando de vida
num beijo inesquecível e prolongado
que a minha boca te oferta sem contrapartidas.

Vens mansinho e devagarinho, como uma brisa
escondendo-te por entre as árvores
esperando que o sol parta e a noite se faça
passas pelos meus cabelos esvoaçantes
demorando-te neles, acariciando-os, famintos
nas danças das tuas mãos sem coreografia
treinadas, no entanto, em matérias de anatomia.

O céu já turvo, resolveu preencher-se de estrelas
e do nada fiz-me corpo tagarela, sem trela
encostando os meus seios hirtos às tuas costas
enquanto as tuas mãos me procuram
imaginando-me colada a ti, mais que feitiço
interiorizando toda a tua essência
engrandecendo-me e conduzindo-me ao paraíso.

Tocares-me será sempre miragem enternecedora
em que o teu corpo clamará pelo meu
nesse deserto injusto e intruso da nossa vida
e beberes-me será a melhor água fresca
que nasce neste aprazível oásis, a minha boca
e beijares-me será apenas um sonho
na polpa dos teus lábios ávidos, urgentes, carentes.

Não penses e entrega o teu corpo ao meu, assim
saboreando cada toque, cada vontade
e na música, os nossos corpos comprimem-se
fusão de curvas, retas e concavidades
exigindo o inevitável orgasmo, materializado
num ápice indescritível e invisível
que nos faz prolongar o instante para a eternidade.

Amo-te na existência material de ti e de mim
na ausência permanente, evidente
como ar abençoado e louvado, moldado
fazendo-me purificada, sagrada e imaculada
onde sou estátua, de sumptuoso olhar
utopia, amor, paixão, sentimento e doação
flor que exala o seu perfume e lume no tempo certo.

Amor é, como sabes, muito mais que tudo isto
é a pura forma de querer concretizar
de desejar-te e sentir-te em mim, sempre
e ter eu a certeza, e tu a convicção
que podem vir ventos, temporais, vendavais
a terra pode até mesmo terminar
que hoje, amanhã, depois, para sempre, serei, tua.


CÉU

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