domingo, 1 de dezembro de 2019

NATURALMENTE

Quando pareces de mim desinteressado
e levas contigo o que de melhor tenho
sou do verso, a rima torta e morta
enquanto as minhas mãos se contorcem
em movimentos doloridos e aflitos
na acentuação de todos os meus gestos.

Sei de cor o som, o eco da tua ausência
que trata, vilmente, os meus ouvidos
com passos e gritos ensurdecedores
acompanhados pelas lâminas do vento
nos dias em agonia, interiorizados
na trituração natural do moinho da vida.

Esta, por certo, traz somente a demora
impregnada de momentos amargos
em que, desnorteada, me despe
e me entrega à madrugada, sem hora
temendo eu, que me retire o sabor
do teu amor, nos fios que ela bem tece. 

E aí, logo vem o medo, sem explicação
quando os nossos olhares se falam
mas não ouvem o grito do meu corpo
que é uivo lancinante e pungente
de loba, de fêmea desiludida e ferida
que com pés silenciosos e furtivos
procura novos caminhos, naturalmente.


CÉU

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