COMEMORA-SE, HOJE, DIA 14 DE FEVEREIRO, O DIA DOS NAMORADOS. EIS A MINHA PARTICIPAÇÃO.
Sem eu saber lá muito bem de onde vinha
aquele cálido soprar, aquele bafejar
nos meus cabelos, no rosto e no corpo
que o recebia, o aquecia e crescia
ao contacto intenso e galopante do teu
num estado eufórico, louco.
Um encontro doce e de indescritível prazer
tonificado, já em pedra, solidificado
viril, destemido, de rompante, abusivo
desordeiro, mas afável e seduzido
pela agitação e excitação do meu corpo
contra o teu, já quase fogo.
E queres e apoderas-te logo, logo de mim
tomando, perseguindo, conseguindo
o achar, o realizar do ponto de encontro
sonhado, desesperado, prometido
e o beijo com que me enlaças a boca
sabe-me a tão, a tão pouco!
As mãos ávidas, que queimam as roupas
abrem veredas, matagais, estrelas
e os olhos olham-se, falam, chocam-se
e ensinas-me o caminho, guias-me
com força neste impulso forte, convexo
estendendo a passadeira vermelha
escancarando todas as portas ao sexo
já a babar-se de tão frouxo!
Conheço, sei de cor, os teus íntimos sinais
os gemidos, o arfar, os gritos e os ais
a voz, a tua voz, desejando e exigindo
mais, sempre mais e muito mais
e a tua língua dominadora e guiadora
levando-me, pouco a pouco.
Finos e fortes perfumes, odores e sabores
pénis em ereção, ansioso, incontido
meu amor, vem, minha língua dançarina
ao teu render, quase vindo
em avalanches, pérolas e brilhantes
espessos, de muco, de ouro.
Manobras-me, manuseias-me, dobras-me
como flor breve, à mercê, leve
nas tuas mãos, desfalecendo, morrendo
e segues o vento tórrido
num voo despótico, sensual, erótico
e quando paras, és beijo rouco.
E eu em delírio, febre subindo, trepando
e tu em mim, feliz, naufragando
e tu em mim investindo, alagando-me
e eu usufruindo e gostando
até que as palavras, os uivos, os gritos
aconteçam da morte pequena.
E depois e logo de seguida, e sem parar
as coordenadas dos sentidos
contorcem corpo e alma em espasmos
em estrofes brancas e bordadas
que inventei e escrevi com o teu sémen
escorrendo devagar, aliviado
pela vegetação e botão da pradaria
que estremece e se agita e enlouquece
de prazer fundo, extenso, profundo
e somos só dois, nós, tu e eu
jazendo ali, anarquizados e sagrados
fazendo o amor deste e de outros mundos.
CÉU