terça-feira, 16 de novembro de 2021

A RESPOSTA

Dei pela tua entrada no espaço onde improvisei a nossa noite, com passos maviosos e respiração prudente. O meu peito batia imenso, mas tentei amenizar a situação com um inevitável engolir em seco, e, inteligentemente, encostei-me à parede fria, no canto mais recôndito que encontrei.

E agora, o que sucederá? Como procederá ele? As minhas mãos, os meus dedos contorciam-se com delírios e sensações indescritíveis.

Apalpaste o escuro, e, facilmente, acabaste por me encontrar e me tomar. Não proferiste um monossílabo sequer, mas eu pressenti o teu bafo a percorrer-me o corpo de alto a baixo. Era tórrido, suave e terno, como o toque das tuas mãos em mim. O teu corpo e as suas convulsões diziam-me que caminhasse, que não tivesse receio, enquanto a tua respiração já bem perto, tentava deixar soltar a minha, para que me fizesse "gente" e me desse.

Dar um pequeno passo em frente, seria fácil, e haveria o encontro de dois corações, de dois corpos em alvoroço. Tive medo e não o fiz, embora o meu desejo me tivesse dado uns tantos safanões. Os meus sentidos pareciam bloqueados e os meus olhos, repletos de cio, sofriam por falta de luz.

Sem palavras, pegaste nas minhas mãos, muito frias e apavoradas, com as tuas, beijando-as e apreciando-as, como se de uma bela pintura se tratasse. Estava ali tudo o que sentias e o que querias de mim. Quando as sentiste menos frias,  guardaste-as numa das tuas, e com a outra tateaste todas as minhas linhas, sinais e veias que levavam o sangue aos sítios certos. Naquele momento, senti-me calma, finalmente, lembrando-me da doçura de todas as tuas carícias, sinceridade e maturidade, que tão bem conhecia.

Não ousei movimentar-me, nem retirar as minhas mãos de dentro das dele, pois também não saberia o que fazer com elas, nem com os pensamentos que se formavam em catadupa. Senti-me noutra esfera e comecei num quadro ansioso, com vertigens e náuseas. Vendo-me neste sofrimento, levou as minhas mãos à boca dele e beijou-as, delicadamente, percorrendo com elas o seu rosto, e eu, instintivamente, dei-lhes carta de alforria, soltei-as como se fossem aves, que tinham aprendido a voar naquele momento, e afaguei os seus lábios, os olhos, não desprezando as pestanas e as sobrancelhas, tal como os cabelos, que ficaram embaraçados nos meus dedos.

Um rosto bonito, maduro, macio, com algumas rugas, talvez de expressão, e no cabelo, embora ligeiramente comprido, fazia-se adivinhar uma agradável textura e volume. Enquanto lhe descobria o rosto, ele avançou um pouco mais até mim, e deslizou, subindo as mãos pelos meus antebraços, depois pelos braços, alcançando-me os ombros, depois o tórax, parando a sua exploração na cintura, cingindo-a.
Pensava eu que o meu coração era cordato, silencioso e bem comportado, mas qual quê? Que ruidoso! E não me obedecia. Cala-te, disse-lhe na minha imaginação, porque precisava de estar compenetrada naquele momento tão importante.

Foi, então, que me puxaste para ti, compulsivamente, abandonando-te ao meu olhar, mantendo-me, no entanto, presa pela cintura. Senti-te o corpo inteiro e comecei o percurso com as minhas ávidas mãos, que souberam, exatamente, o que fazer. Percorri-te o rosto, em seguida o tórax, onde encontrei alguns pelos, claros e poucos, felizmente, que excitavam a tua camisa já quase toda aberta. Fiquei tão envergonhada e tão corada, mas acho que até disso te apercebeste.

Todo o meu corpo estava em alerta, e sentia os estímulos vindos de ambos os lados. Ele tremia, cerrando os olhos, enquanto os arrepios se notavam, perfeitamente. Tive medo do calor do desejo e estremeci, também. O corpo dele era forte e másculo, bem mais alto que eu, possante e possuidor. Pensei que deixaria de pensar naquele momento, tal era o impacto dele junto de mim. Sem querer, deixei escapar um tímido gemido, quando ele desapertou alguns botões do meu vestido vermelho e me acariciou os seios, gesto que me pareceu de seda, todo adoração, todo procura. Com os seus lábios tocou os meus, quentes e desejosos, delineando todos os cantos e recantos deles e num semicerrar involuntário dos olhos, o corpo afogueou-se. Fitou-me e apanhou-me a boca com a sua num beijo, que deixei aprofundar até fundirmos respirações, ímpetos e suores.

Depois, finalmente, falou e perguntou-me se eu o queria reconhecer. A voz inconfundível e meiga dele perturbou e calou na garganta o meu sim. O meu silêncio não fez mal, pois o meu corpo deu-lhe, logo de seguida, a resposta.


CÉU  

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