sexta-feira, 17 de novembro de 2017

ARDER DE PRAZER

Beijavas-me a boca toda.
A tua não conseguia ter mais profundidade
para a minha, inquieta e com espaço
céu dela e todos os seus limites.
Lambias-me tão bem
enquanto roçavas a barba no meu rosto
rebolando-me eu por gosto
dizendo-te, que tudo era corpóreo, devasso
pedindo-te para me fazeres arder.
 
Os meus cabelos, libertinos
bem escurinhos, à-vontade e num desatino
eletrizavam-se às tuas puxadelas
o pescoço, às chupadelas
que deslizavam já na fronha empapada.
Na tua boca, sôfrega
e nos teus olhos, esfomeados 
aquele desejo desnorteado e descontrolado
para me possuíres e usufruíres.

Até à cama, eu bem sabia
como fazer parte deste prodigioso bacanal
contrariando a mudez da madrugada
e então, gemia e uivava
agarrando-me à cabeceira do leito manso
balanceando-me com arte
abrindo e cruzando as pernas, habilmente
envolta num lençol branco, ousado 
para enfatizar e atear o cenário.
 
Tu, nadinha surpreendido
olhavas-me, lenta e desafogadamente
nem uma palavra disseste, de boca cálida
que tão bem falava por ti.
Mais tarde, e antes que as tuas pálpebras
cedessem ao sono
algo me chegou, como vulcão indomável
e disse-te, pela primeira vez:
ah, como gosto de ti, como te amo!
 
Tu, na maior das calmas
irritantemente, sereno e muito ameno
docemente rindo, fingindo-te surpreendido
afirmaste: não posso acreditar!
Estás a falar a sério?
Evidente que sim e não admito dúvidas
e assim, vou exigir-te que me dês prazer
elevando-me a orgasmos múltiplos
como sabes, que consigo ter.
 
De seguida e na sequência
exteriorizaste e aplicaste a mordidela fatal
banal, inconfundível, punitiva
nos meus seios com todos os teus dentes
como se a minha dor
fosse o prémio merecido por tal revelação.
Em certa medida, sim
pois essa noite nunca mais terminou
e nós continuamos a senti-la.
 
Os meus pobres mamilos
digo-te, que ainda, loucos, estrebucham
hirtos, endurecidos da tua boca 
e desde dessa noite
eu ardo, eu continuo a arder, sem parar.
Antes, não era assim
mas agora, que estás distante
geograficamente, não no peito, que sente
arder dói, ah como dói!
 
Estou certa, que regressarás
quando eu deixar de escrever para todos
e colocar as palavras, as minhas
completamente de lado.
Nesse dia, deixar-me-ei amar, desejosa
de tanto pretender fornicar contigo
não mais como uma personagem principal
de uma história hipotética e erótica
mas, somente da nossa.
 
 
CÉU

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