Tu és um mundo com mundos por dentro
e nós temos muito, mas tanto
para dizer um ao outro!
Vem! Vem esta noite, suplico-te
para fazermos de perto
juntos a vida toda.
Seremos beijos, um profundo beijo
que se quer e que demora
seremos alimento um do outro
e logo, tudo se devora
e por isso mesmo, vamos fazer
o que ainda não foi feito
porque amanhã, pressinto, eu sei
talvez já seja tarde demais.
Lanço-me das grandes e infinitas falésias
do nosso imenso desejo
para a imensidão e sofreguidão
das nossas bocas
e, conscientíssima, afundo-me
nas ondas da tua língua
que implacável e exasperada
espera já a minha.
É na tua pele, só na tua pele
que a minha se acende e se revigora
escutando o que a tua alma
tem para lhe contar
ainda a dormir, hibernada
mas em poucas palavras, diz-se tanto
pois nos teus apurados sentidos
há tudo e mais um mundo.
Amor, não dormimos nada, mesmo nada
a noite anterior, a noite passada
porque ficámos os dois
embevecidos e tão abraçados
contando aqueles pontinhos brancos
todos, pois, as estrelas
que desabrochavam e cintilavam
no meu e no teu olhar.
Não sei como, nem porquê
espalharam-se todos pela nossa cama
sem que déssemos por isso
entrega mútua, inigualável, tamanha
mas agora que o sol já está espreitando
vamos aninharmo-nos
muito bem um ao outro, e dormir.
Mesmo a dormir, enceta-me e penetra-me
colhendo todos os desejos e anseios
que, magicamente, plantaste
sugando-me a boca
e até mesmo a alma, se quiseres
acalmando o desatino
que tanto provocas em mim.
Deixa a volúpia, o frémito e a ternura
e mais a loucura assistirem
ao empenho e desempenho total
da tua insaciável libido
atracada ao meu corpo pulsante
alvoroçado de amante
enlaçada na minha língua, de rastos
mas bem explorada.
Vem! Cobre-me a pele toda, todinha
sem deixar nada, nadinha
com o teu manto espesso nos lençóis
peço-te, suplico-te
acrescentando-lhe charcos de saliva
para entregar alma e vida
à ribeira sereníssima, que eu sou,
e tira-me o fôlego de vez.
Depois, e quando eu despertar, acordar
e sem que tu dês por nada
vou colar com muitos beijos
só com os meus beijos
estrita e unicamente engendrados
e somente a ti destinados
os pontos brancos estelares, os do céu
no céu da tua boca.
CÉU