Estou toda desalinhada na minha cadeira de baloiço
matreira, coçada, sabida, ousada, segredeira
habituada a posições desconchavadas
e por isso, já nem se queixa
e nem tuge nem muge, coitada!
É confidente, cúmplice, amiga, espaço devasso
onde não tenho posturas ensaiadas
alinhavadas e costuradas
que a sociedade depravada resolveu impor
em forma de fachada à consciência
mas a minha, há muito, que estava sã e purificada.
É nela que viajo por antros profanos e estranhos
que só eu sei onde os procurar e achar
e neles toda me entregar e enlear
como uma serpente domesticada
que faz habilidades por nada
apenas perscruta, obedece, executa
sem tão pouco questionar.
É na minha astuta cadeira que me dilato
alimento e me abro
como e quando eu muito bem quiser
e com quem me apetecer
porque ela engaveta segredos
muito melhor que um ser pensante, racional
e é deveras superior, asseguro-vos
a qualquer cama sumptuosa, vulgar, convencional.
Só nela, pois, me espreguiço, enrosco e desenrosco
e me dou, quando me pretendo espraiar
libertar, endiabrar, soltar e aliviar
e aquela doce tarada, ainda me instiga
quando me diz, descarada
para eu me escancarar, me divertir
me mostrar e ainda sorrir.
Na opinião dela, eu tenho tudo a desfrutar
a usufruir e a ganhar
na mais obscena provocação, libertinagem
e péssima formação
que jamais me foi ensinada, nem incutida
pensada, aprendida e utilizada
não fazendo parte
do meu curriculum vitae e esmerada educação.
Hoje, vou colocar um baby-doll de cetim macio
que impressione, que atice
burguês, de alças safadas, à mercê
e bem à vontade do freguês
de pezinho ao leu e cabelo emproado
com um acessório provisório
que é verbo de encher, pois já está torto
lasso, e quase todo solto.
Sobre a minha pele, ai que desavergonhada
não tenho nada, nada, nada
pois sou liberdade, natureza sem espartilho
e toda, mas toda veracidade
vista no cruzar e descruzar de pernas
melhor que Sharon Stone
numa pose sensual e mais que total
irreverência voraz, atraente e substância fatal.
Felizmente, por vontade e opção, vivo sozinha
e a casa é totalmente minha
nela faço o que me apetece, o que maquino
e que me entontece
com gemidos e gritos sortidos
filhos da minha essência solta, adjacente
que já está habituadíssima
a estas maluquices inconsequentes.
Lendo-me, gosto de ser felina e libertina
e de proceder deste modo
sem nada nem ninguém me repreender
me rotular e me criticar
mas também me dá prazer amuar
fazer beicinho e choramingar
para que me desejem
como doce aprazível, conventual e irresistível.
Apesar deste meu comportamento raro, invulgar
vejam vocês, amigos, só o descaramento
que me chegou aos ouvidos
já surdos, mudos e empedernidos
para aquilo que os outros possam achar
observar e classificar
porque eu sei muito bem quem sou
o que faço e o que valho.
Então, não é que o meu amor, afirmou
gritou a plenos pulmões
que adoraria que eu fizesse no corpo dele
sem quaisquer hesitações
tudo aquilo que executo, desempoeirada
insubmissa e desvairada
na minha doce cadeira de baloiço
mas penso, acho, que ele não tem arcaboiço.
Bem, mas de qualquer forma, vou experimentar
nem que seja somente a brincar
para avaliar e acreditar no sentimento
que tanto o devora
e que diz ter por mim, e do qual tenho dúvidas
muitas, cem, mil, sem fim
para que toda a verdade seja posta à prova
sem qualquer demora.
Esta noite vou convidá-lo para vir a minha casa
só para conversar e tagarelar
e depois iniciarei a minha normal atuação
com classe e muita elevação
para que eu veja as reações dele, as atitudes
os gestos e as emoções
obtendo eu, desta maneira simples
uma radiografia sensitiva e certamente conclusiva.
Ouvem-se as pancadas de Molière, as do coração
começando o meu corpo a insinuar-se
a aconchegar-se e a dar-se
numa volúpia exacerbada e incontrolável
num êxtase sem transgressão
que lhe mostrava bem quem eu era
o que fazia e o que por ele, deveras, sentia.
Mas, sinto-me a desfalecer
quase a morrer nos braços dele
sem hipótese alguma de dizer amo-te
nem que fosse a última palavra
que eu proferisse
antes de partir, ir de vez
para o implacável fogo do inferno
mas um beijo dele, quente, longo e terno
devolveu-me à vida, bonita e querida, para sempre.
CÉU
Sempre temos um cantinho ou um lugar para um encontro com nós mesmos, são nesses cantinho ou lugar que nos aconselhamos, tiramos dúvidas, temos nossos momentos de fé e até mesmo de amor.
ResponderEliminarSempre são amigos, sempre tem as soluções
São nesses cantinhos ou lugares que nós nos (re) conhecemos
Beijos
Rafael
Querida CEU.
ResponderEliminarMe tocas las mas sensible a fibras con tu publicación.
Que buen post.
Respecto a tu pregunta en mi blog, Miami está cinco horas atrás de Lisboa.
Un abrazo!!!
Isto hoje está difícil.
ResponderEliminarDizer só por dizer não soa bem, porque quando a obra excede o pensamento as palavras parecem ocas.
Eu andei perdido nos pensamentos, baloicei a imaginação nos solavancos dessa cadeira e a respiração ficou ofegante. Veja bem, só de pensar.
Cara Céu, por vezes imagino que, nesse paraíso, existe um pequeno diabo para nos perder no emaranhado de tanta loucura.
Diogo e confirmo : EXCELENTE !!!!
Abençoada cadeira de baloiço!
ResponderEliminarQuanta Paixão!!! Bj
ResponderEliminarQue loucura, essa cadeira de baloiço.
ResponderEliminarBeijo
Céu me pergunto de onde vem tanta inspiração...seus poemas são arte e amei a musica e o video....bjucas
ResponderEliminarOlá Céu, gosto da forma como encenas as palavras e dás formas aos desejos, incitando a imaginação. És divina, na arte de expressar um amor intenso e profundo, através de seus poemas. Parabéns, obrigada, abraços carinhosos
ResponderEliminarMaria Teresa
Delicioso poema, dessa personagem que transgride as regras não por um simples revanchismo pela sociedade...mas por não abrir mão de ser quem é, nem de seus sonhos de amor, um amor vivido à sua maneira e não da maneira como outros desejariam lhe impor.
ResponderEliminarA música combina perfeitamente, e é também um deleite.
Um grande abraço, e ótimo finalzinho de semana.
Bíndi e Ghost
Pois é Céu!
ResponderEliminarCom uma cadeira de balanço como essa, tens mesmo que transgredir. Santa consciência purificada e transgressora.
Enquanto você balança eu flutuo na tua imaginação.
Beijos e boa noite!
É nela que viajo por antros profanos, transgressores e estranhos
ResponderEliminarque só eu sei onde os procurar e os achar, e neles me enlear
como uma serpente domesticada, e que faz habilidades por nada
apenas perscruta, obedece, executa, sem tão pouco questionar.
É na minha astuta cadeira que me dilato, alimento e me abro
como e quando eu muito bem quiser, e com quem me apetecer
porque ela engaveta segredos, bem melhor que um ser racional
e é deveras superior, asseguro-vos, a qualquer cama convencional.
A cadeira tem o dom especial de nos enviar a mundos inimagináveis, principalmente, quando balançando. Rsrs. Aqui em casa temos duas destas cadeiras, e damos graças a DEUS porque nao falam, pois se falassem...Rsrs.
Agradeço pela tua visita e gentil comentário deixado no nosso Literatura & Companhia Ilimitada. Espero que voltes mais vezes.
Beijos,
Furtado.
Recebeu o príncipe e levou-o aos céus e aos infernos.
ResponderEliminarSem intervalos nem passagens por purgatórios que são sempre desnecessárias.
Beijos
Te resucitó y luego nació el poema.
ResponderEliminarMuy bueno.
Saludos.
Que texto belíssimo, Céu! Tem o efeito de um perfume adorável que invade as narinas, tonteia, e faz ficar refletindo com um sorriso no rosto.
ResponderEliminarBeijo.
www.dilemascotidianos.blogspot.com
Gosto sempre tanto do que escreves!
ResponderEliminarr: Ainda bem que gostaste :)
Beijinhos*
SE SIENTEN LAS PULSACIONES!!!
ResponderEliminarABRAZOS
Un buen poema. Te felicito.
ResponderEliminarUn abrazo
Dei por mim nesta cadeira de baloiço :)
ResponderEliminarObrigada pela visita. Tenho estado de férias e um pouco ausente da escrita. Não consigo deixar de me lembrar dela (a escrita) mas nem sempre encontro espaço para ela, enfim, são manias.
Beijinhos
Na cadeira de baloiço
ResponderEliminarSempre és uma atrevida
Costumeiramente oiço
Confissão mais pervertida
Que fora dela não dizes
Conjuro que o avalizes
Estando nos braços meus
Rompante de meretrizes
Libera instinto animal
Pra que não me atemorizes
Diz o que vale afinal
As convenções de museus
Ou ser rico entre os plebeus
Se não me queres amante
Eu quero o que me avive
E tudo que me seduz
E que nada mais me prive
De beber a tua luz
Eu só quero neste instante
Que o céu me alevante
Pois padeço em calaboiço.
Kisojn.
Bom dia Céu.
ResponderEliminarMais um belo poema, a musica completou divinamente. Que poder desse beijo para devolver uma vida para sempre, seria o beijo do amor rsrs. Um feliz dia dos namorados amiga. Abraços.
E que cando os bicos son quentes e longos "resucitante"
ResponderEliminarbicos
André
Há luz que renasce das sombras
ResponderEliminaré uma encenadora exímia, minha amiga (permita-me a familiaridade)
ResponderEliminardomina na perfeição todas as "regras" do grande Espectáculo
isso deve-se à leitura dos "clássicos", naturalmente...
mas, desculpe-me a franqueza, a sua perversidade soft (tipo ligações perigosas) ainda requer muita "filosofia"...
em qualquer caso, continue a praticar, que a "prática" "es la madre de todolas cosas"
cordialmente
Não tenho uma cadeira de baloiço como a tua, mas de vez em quando gosto de me enroscar no meu sofá e, com a casa vazia de gente, sinto-me livre, leve e solta e desse modo vai para longe o pensamento, a imaginação, o sonho. Há quem diga que nunca se consegue
ResponderEliminara plena liberdade e eu dou razão a esse argumento. Por mais que queiramos, há sempre um entrave à nossa liberdade, mesmo dento da nossa própria casa. Mas...nessa tua cadeira de baloiço com certeza és livre. Belo texto, amiga! Um beijinho e um bom fim de semana
Emília
Também tenho uma cadeira assim, mas tenho sido muito ingrato para ela. Vou-lhe mostrar este texto e dizer-lhe que o subscrevo tim tim por tim tim.
ResponderEliminarBeijinho e bom FDS, Céu
La vida vuelve siempre.... y esta vez con toda la fuerza de tu hermoso poema
ResponderEliminarPaz y Rosas
Isaac
Minha amiga é sempre um enorme prazer ler os seus belos e sensuais textos, que para além da beleza também são bastante estimulantes.
ResponderEliminarUm abraço e um bom Domingo.
Esa mecedora sabe mucho de ti y guarda tus secretos.
ResponderEliminarHe utilizado el traductor, pero no creas que me ha ayudado mucho, en principio me lo traduce como el que está en la mecedora es un hombre y no una mujer.
La traducción al español pierde muchísimo encanto, prefiero enterarme de lo poquito que sé de portugués y disfrutar de la sonoridad que tienen tus versos.
En Septiembre hará 7 años que he perdido al amor que guiaba mi vida. Con ésto habré contestado a tu pregunta.
Cariños y buena semana.
kasioles
Tanta sensualidade neste texto... :) Beijo *
ResponderEliminarOs segredos que uma cadeira de baloiço abarca!...
ResponderEliminarPreciosa poesia, meticulosamente tratada, com um efeito sensual perfeito.
Parabéns.
Beijos
SOL
Olá Céu!
ResponderEliminarHe tardado un poco, perdona, pero no olvido tu arte ni pasar a disfrutarlo , y quiero hacerlo tranquilo y leyendo en tu lengua, hermana de la mía. Pienso que la poesía es lo más difícil de traducir, pero estando concentrado y en calma creo que entiendo bastante bien tu escrito original.
También creo que hay objetos con alma y con memoria, con deseos y recuerdos. Tengo una mecedora muy cerca, pero es muy raro que me siente en ella; era de mi abuela materna, una mujer excepcional a la que aún amo y adoro. Sin embargo, no sé qué me da sentarme en su silla, en la que le hice el último retrato, en la que siempre la vi muy en paz, a gusto y plena de sabiduría. Serena.
Muchas gracias por tus poemas, son muy exquisitos.
Un abrazo.
Apetecia-me perguntar onde se compram essas cadeiras, mas não pergunto:-)
ResponderEliminarBeijo
Belo texto, Céu... e que bela utilização da cadeira! ;) Boa semana.
ResponderEliminarDesde pequena que tenho um certo fascínio por cadeiras de baloiço, nem sei bem porquê, talvez pela sua forma envolvente e o seu movimento relaxante.
ResponderEliminarAmiga do peito, confidente...
Beijinhos e boa semana :)
Saudações Ceu! Senti cada sentido e dei sentido aos sentimentos sentidos! Do frio do cetim ao conforto do balanço..... Beijos e abraços!
ResponderEliminarAdoro cadeiras de balouço e gostei muito do seu Poema !
ResponderEliminarBoa tarde, cadeira de baloiço que sabe ler os seus pensamentos, que lhe dá o conforto quando viaja até ao infinito.
ResponderEliminarAG
Na minha sala tem uma cadeira de balanço que me acompanha deses a juventude, agora vou ter que olhá-la com outros olhos.
ResponderEliminarUm abraço, paz e bem
Que dizer mais da tua escrita, dos teus belíssimos poemas, sem me repetir constantemente, minha querida amiga !? ...
ResponderEliminarPodes crer que me é muito difícil, fazê-lo em poucas palavras, sem me repetir e vulgarizar ! ... e tu sabes que eu gosto de ser perfeccionista e singular no que escrevo !
Por isso, quantas vezes, passo simplesmente para te ler e ficar deliciado com o que tão bem escreves e descreves, fazendo-me sentir completamente dentro do contexto !
O erotismo, a sensualidade, é isso mesmo ! ... e tu tens essa rara capacidade de, subtilmente, nos fazeres sentir o que te vai na alma, o que sentes e nos pretendes fazer sentir ! ... e podes crer que, exímia no "jogo" das palavras, o consegues em absoluto, fazendo-nos transportar para dentro de ti !
Um Grande Abraço e mais uma vez, ... adoro a tua escrita ! És muito especial !
.
No me rindo Céu,soy muy tenaz.Vuelvo a intentarlo.
ResponderEliminarGracias por tu traductor nuevo,me facilitará las cosas.
Tu poema me sigue transmitiendo sensación de libertad e independencia.Una mecedora cómplice la tuya que llega a levantar pasiones...:)
Un abrazo. (A ver si ahora,por fin...)
Como mariposa...liberta!
ResponderEliminarBeijo
É muito profundo o que você escreve, faz de uma maneira suave quem ler, sonhar, uma doçura sem lambuzar, mas de certo que fazemos "viagens" incríveis com cada linha que lemos sem parar
ResponderEliminarBeijos
Rafael
que o Céu desabroche ...
ResponderEliminarSIEMPRE ME IMPRESIONAN TUS TEXTOS...!
ResponderEliminarABRAZOS
Eu sei que vais baloiçar
ResponderEliminarNo tempo deste Verão.
É, mesmo, o descansar
Que nos dá outra razão.
Beijos
SOL
Hoje, vou pôr um baby-doll de cetim escorregadio, que impressione
ResponderEliminarburguês, de alças safadas, à mercê e bem à vontade do freguês
de pezinho ao leu e cabelo emproado com um acessório provisório
que é verbo de encher, pois já está todo torto, lasso, quase solto.
Sobre a minha pele, ai que desavergonhada, não tenho nada, nada
porque sou liberdade, natureza sem espartilho e toda, toda vontade
que se vê no cruzar e descruzar de pernas, melhor que Sharon Stone
numa elegância total, irreverência voraz, atraente e substância fatal.
Linda e provocante. mais uma vez aqui para me deliciar com a leitura deste teu belo poema, e agradecer a tua visita e amável comentário deixado no nosso Arte & Emoções.
Beijos e muita saúde e paz para ti e para os teus.
Furtado.
Olá prezada Céu, e que tudo esteja bem contigo!
ResponderEliminarIntensa sensualidade baloiçante, não ha como não se deixar levar pela imaginação, e tem sido sempre assim que por cá passo, intensidade de sentimentos cá expressos que fazem deveras a imaginação viajar prazerosamente, obrigado por compartilhar, e também pelas gentis visitas e carinhosos comentários por lá, fica na paz do criador, abraços e, até mais!
Se nota la pasión en cada letra de tu poema.
ResponderEliminarTodos temos nosso lugar mágico, beijo Lisette.
ResponderEliminarEstonteante e emocionante poema!
ResponderEliminarNo qual a Céu, nos agarra e envolve com as palavras... balança-nos o espírito... e faz-nos viver a emoção...
Já tinha saudades de passar por aqui...
Estive ausente nas últimas semanas, devido a uma avaria no pc... só deu para voltar por estes dias... e ainda estranhando as novidades instaladas no novo sistema...
Esperando que esteja tudo bem aí desse lado, deixo um monte de beijos, e votos de um excelente fim de semana!
Ana