Nos bastidores vesti-me de forma atraente.
Duas peças apelativas e um manto
que acariciavam o meu corpo, irresistível
que se mostrou, retirando-o, sensualmente.
O meu amado, ao ver-me assim, ficou amuado
dizendo, todavia, que eu parecia uma princesa
uma tela valiosa, cara, maravilhosa e rara
que apetecia observar bem, tocar e reverenciar.
Como resposta, fitei-o num aparato descarado
percorrendo, ousada, o salão animado
de serpente ao pescoço, nada em alvoroço
dançando e bamboleando as ancas já atiçadas.
Homens assistindo, apreciando e ansiando
a contorção sensual do meu ventre
o modo, a cobiça pelos meus seios salientes
por entre as labaredas de fogo, tão impotentes.
Caminhando na lascívia de olhares insaciados
invadindo, conseguindo, conquistando
pondo a escorrer néctares pelas pernas e pés
que ofereci, forçando um, tolo, a lamber.
Continuei aquela movimentação com destreza
dominando o show, de forma poderosa
enchendo a garganta de líquidos sem álcool
que despejei na boca de um pobre, coitado!
Todos na sua hipnose, admirando e delirando
fumando e bebendo e já sem noção
aplaudindo, entusiasmados, a minha atuação
que, crescentemente, os seduzia, excitava.
Aproveitei a alienação deles, para me afastar
de modo ténue, pegando no meu cabelo
de onde retirei plumas, que o modificaram
enquanto eles e eu, já de costas, me adoravam.
Tu, meu querido, de olhar aniquilado e abalado
nada disseste, quando me aproximei.
Aninhei-me, então, no teu peito, quase parado
beijei-te, muitas vezes, na hora e sem demoras.
O meu Adamastor, sentido, parecia de ferro
com as infraestruturas, muito mais que seguras
mas tu sabes que "água mole em pedra dura
tanto bate, até que fura", diz o ditado.
Então, aceita-me e deixa-me ser como sou
somente na escrita, que dá sentido à minha vida.
CÉU