domingo, 6 de outubro de 2019

SABES-ME

Sabes-me sempre a tão pouco, meu amor
quando em mim atracas, com volúpia
de boca esfaimada, explorando a minha.
O teu cabelo cheira-me tanto a luar
que ata com nós firmes a nossa paixão
a que construímos há tanto, tanto tempo!

Deixo que as lágrimas teimosas e mornas

beijem o meu rosto e os cantos da boca
que já só sabe à tua, invariavelmente.
Depois, misturo-a com a saliva, ardente
numa alquimia pagã, nunca permitida
tendo o teu corpo, louco, pressa orgástica.

Abraças-me, então, muito melhor que o ar
e eu enleada em ti, sou, somente, ave
a proteger-se do furor das tuas palavras.
Cantas-me, doce, a vida consagrada
quando me fazes tua, incansavelmente
no delírio e no mutismo, ao mesmo tempo.

Não quero, não quero que me saibas de cor
quero, isso sim, surpreender-te sempre
e que te refaças para me amares de novo.
E de ave mansa, indefesa e à mercê
torno-me leoa, nos buliçosos prados de ti
sendo, simultaneamente, presa e predadora.

No meu corpo deixas muitos sinais urgentes 
que receio não ser capaz de satisfazer
entrando eu logo em pânico, desesperada.
Assim, e mesmo não conseguindo abrandar
este desejo, esta fome, que de ti possuo
sei que o pouco que me dás, é tanto, tanto!


CÉU

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