Entrega-me todas as partes, claras e escuras, desse teu corpo
desencarcerando, alforriando e saciando essa vontade
e deixa-me pesquisar, mergulhar e saborear essa tua boca
esses lábios carnudos, rosados, infiéis e tão ousados
que me provocam agasturas e sede, patologias sem rede e cura.
Vá lá, faz o que te digo! Tira peça por peça, assim, sem pressa
interessa-te, arremessa-te, cobiça e atiça a minha cama
que é de ferro, frio e resistente, ao contrário de mim e de ti
e não tenhas receio de te enroscares na minha língua
de te drogares e viciares em afagar, lamber e chupar a minha pele.
Mesmo que isto te pareça um desvario do período pré-ovulatório
revelando, maior desejo de sexo, quem saiba, sem nexo
exalando uma sedução descarada, irresistível, desavergonhada
não te questiones, nem reprimas, e muito menos te domes
antes toca, acaricia, desenvolve, avança e prova, exaustivamente.
Sei que sou aquela que te conduz e transporta a voos irreverentes
a monopólios de carícias, gosto e gozo, ainda por inventar
aquela que consegue alvoroçar a tua tranquilidade e serenidade
a que faz detonar e rebentar os teus preceitos e preconceitos
que são só fogo de vista, como tu muito bem sabes, falso moralista.
Pretendo, então, assistir ao espetáculo da libertação do teu desejo
escorrendo, abundantemente, pelas tuas coxas e pernas
enquanto eu vou rasgando e estraçalhando o teu aparente medo
que vai cair por terra, inevitavelmente, ora, homem, pudera
pois és igualzinho aos outros, em atuação, e a ocasião faz o ladrão.
Eu tenho sonhado, de olhos abertos e despertos, e andado por aí
até que toda a tua pele, escorregadia, apetecível e luzidia
se rebele e se amotine, transpirando loucura, frémito, ternura
mostrando-me os teus sinais mais recatados e privados
que desejo e exijo trincar, morder, beijar e degustar, efusivamente.
Talvez julgues, não ser este o momento mais sensato e apropriado
por não saberes se estou, se vivo sozinha ou acompanhada
mas, não penses nisso, pois sou prudente, recatada e decente
de tal maneira, que te desafio a bateres à minha porta
entrando e deixando que te tire a roupa, sem quaisquer cerimónias.
Permitido, realizado e consumido o ato, verás que sou uma senhora
diva, mulher, imperatriz, deusa, ninfa, meretriz e cortesã
que te pergunta, de imediato, a bebida que queres ou preferes
à qual a tua boca já não é capaz de escolher e responder
libertando-se do teu pensar e olhar a frase: acorda comigo, amanhã!
Antes de dizer já que sim, tenho de revelar-te que tenho alucinações
de todo transcendentais, sobretudo à noite, insólitas e fatais
que sou caçadora de astros, como estrelas, planetas e cometas
que sei estarem guardados para mim, no céu da tua boca
fazendo eu coisas terríveis, para os obter, agindo pior que uma louca.
Então, e depois desta minha revelação e confissão, aceitas a situação?
CÉU