JOGO

Quando a nossa voz e o olhar se decidem encontrar

acho que perco o chão, o fôlego, a respiração

sinto arrepios, suores quentes e frios 

ficando o meu corpo em chamas, ardente

apetecendo-lhe ceder aos crimes da vontade

que só a nossa paixão, essa doida, saberá explicar.

Parece que estou a ser puxada, enleada, arrastada

pelo desejo de me juntar e colar ao teu corpo

deixando-me levar, e depois pecar

com a tua pele, a perder de vista, acetinada

e com os contornos fatais da tua boca

que me enlouquecem, me esgaçam e trespassam.

Tu és o meu maior risco e estás em qualquer sítio 

no meu corpo todo e em cada poro meu

bastando um levíssimo, um breve olhar teu

para a minha temperatura extrapolar

em transpiração, desorientação e obsessão

que sequestra o mínimo juízo, que ainda me resta.

Tu sabes despertar e animar os meus sentidos

aliciando-me, sobretudo, viciando-me

levando o meu ser, este átomo destruturado

a ter pensamentos e cenários indecentes

que me deixam estonteada, solta, extraviada

de olhos enevoados, confusos, e quase inconsciente.

Como se tal não chegasse, provocas-me, aluado

sorvendo a minha língua, que desatina

entregando-me a esse teu transcendente poder

que me torna escrava dos teus caprichos 

mas fiquem a saber a parte caricata deste jogo 

em que nós damos as peças, por gosto e muito gozo.

CÉU